quinta-feira, 22 de maio de 2008

Aquele misto de grama, cal, bola e terra e a explosão

Apesar de serem tempos difíceis, a esperança e o orgulho colorado estavam lá em cima. No coração dos colorados, havia uma esperança que aquele era o fim da linha do ciclo que nos assombrou por mais uma década. Foi praticamente um oásis em um deserto de duas décadas.

Já tinha ido a diversos jogos do Inter, principalmente levado pelo meu pai. Mas sempre em jogos de menor público. O primeiro jogo no Beira-Rio que eu tenho na lembrança, foi um Inter X Glória de Vacaria em 86 ou 87, e remontando nas minhas recordações, não devia ter mais de 5 mil pessoas no estádio, tanto que meu pai ia até a copa comprar mais uma Brahminha, e um guaraná e me deixava na arquibancada. Meu pai nunca foi, pelo menos na minha lembrança, de ir a jogos com grande público.

Completei 11 anos de idade em 92, e meu pai me levou a poucos jogos depois disso, mas meu irmão começou a me levar em alguns. Minha mãe, Dona Mariza, sempre ficava preocupada de deixar seu caçula nas mãos do irmão, Benjamin, seis anos mais velho, acredito até que fui enganado algumas vezes, com os dribles da Dona Mariza, fazendo tabela com o Benjamin, pois por mim, iria a todos os jogos e sei como é difícil deixar um piá cuidando de um pirralho.

Mas naquele dia a Dona Mariza me liberou, acredito que até sem pensar duas vezes, pois ela sabia que aquele era um dia mágico. O Benja e eu pegamos o Itu-Coinma em direção ao centro, passamos no colégio Irmão Pedro, onde os amigos dele nos esperavam, já preparados (alguns se preparando entre um gole e outro de cachaça) para o jogo.

Em campo um bom time: Fernandez, Célio Lino, Célio Silva, Pinga e Daniel Franco; Ricardo, Élson e Marquinhos; Maurício, Gérson e Caíco. Não era nem um time espetacular, não tinha nenhum grande destaque individual, mas era um grande conjunto. O futebol daquele tempo ainda permitia um 4-3-3, e o 4-3-3 do Inter funcionava muito bem. Naquele jogo, a bola teimou em não entrar. Não lembro quantas chances tivemos, mas estávamos boa parte do tempo no ataque, e sofremos alguns contra-ataques. Time e torcida não desistiam.

40 minutos do segundo tempo. Começaram os 3 minutos mais demorados e tensos da minha história colorada. Começamos a assistir o jogo mais ou menos no 10º degrau da arquibancada, naquela hora já estávamos na mureta que divide a arquibancada da saudosa coréia. Estávamos mais ou menos onde hoje fica a 12. Na área do outro lado do campo, Pinga acabava de cavar aquele pênalti. Uma grande explosão do gigante, seguida de um dos maiores silêncios que o Beira-Rio já teve. As preces de todas as crenças, até dos ateus estavam valendo naquela hora. Eu e meu irmão ficamos ajoelhados junto a mureta, eu quase não conseguindo assistir por três motivos: meu problema de visão, a distância e a mureta. Mas não importava, o importante era a corrente positiva, a prece que eu fazia, e o Inter sair campeão daquele jogo.
Célio Silva parte para a bola, bate, e um misto de grama, cal, bola e terra levantam uma poeira. Nos milésimos de segundo em que a bola é tocada pelo pé de Célio Silva e toca a rede, confesso que não vi nada. O Gigante explode, vibra. E vejo o gol pela explosão, explodindo em emoção juntamente com cada colorado que lá estava, que assistia ou simplesmente ouvia aquele jogo. As lágrimas, a alegria, a comemoração daquele gol, pode não ser o momento mais importante do Inter que vivi, mas foi certamente o momento mais emocionante que presenciei.
Até a próxima.
INTER, Cada vez mais, cada vez MAIOR
AGORA É BRASILEIRÃO, AGORA É GUERRA!

Um comentário:

Anônimo disse...

Emocionante!!!

Esse jogo é minha primeira lembrança forte do Inter.

Como é bom ver que esse jogo foi muito importante tbm para outros colorados.


abs